segunda-feira, 25 de julho de 2011

O VENDEDOR DE SONHOS

Balduíno Lélis fundou grande parte dos museus da Paraíba, criou a Universidade Leiga do Trabalho e abriu horizontes profissionais para mais de 500 jovens.


Balduíno Lélis é inconformado por natureza. Mas não é um negativista. Pelo contrário, jamais aceitou que as adversidades da natureza, como a seca, por exemplo, fossem determinantes para a situação de miséria em que vivem milhares de nordestinos. E foi por pensar assim que criou, em 1987, a Universidade Leiga do Trabalho, entidade sem fins lucrativos, que funciona na cidade de Taperoá.

A idéia de Balduíno, ao criar a ULT, é capacitar o homem para viver no lugar onde nasceu, sem precisar migrar para terras estranhas. No início, a população de Taperoá não entendeu bem a idéia de Balduíno, mas com o tempo foi se acostumando com mais essa invenção dele.

Em mais de 21 anos de funcionamento, a ULT tem um levantamento completo sobre a Paraíba, desde o tempo das sesmarias, e vem formando jovens da cidade em diversas profissões. “Nosso lema é a capacitação do homem para viver no lugar em que nasceu, sem precisar fugir à procura de terras distantes”, diz ele.
A Universidade Leiga do Trabalho atua na formação e preparação de jovens para aprender a conviver com a seca em tempo integral. “O que falta ao nordestino é educação para viver no Semi-Árido nordestino, que é o maior, mais populoso e mais chuvoso Semi-Árido do mundo”, explica.

Na ULT mais de 500 jovens já se formaram em diversas profissões. Boa parte dos irrigantes, que vivem às margens do Rio São Francisco, em Pernambuco, saíram da Universidade de Balduíno e aprenderam o ofício da irrigação com pouco desperdício de água a partir das idéias dele dentro da ULT.
Assim, os jovens de Taperoá estão aprendendo os ofícios de pedreiro, marceneiro, oleiro, eletricista, etc. Balduíno não conta com ajuda oficial e mantêm a ULT com seus próprios recursos. “Os órgãos do governo são de difícil acesso, com raras exceções, e não aprenderam ainda que nós devemos ensinar o homem a conviver com a seca para não sair do ambiente onde nasceu”, explica.

Balduíno tenta mostrar a seus alunos que a sazonalidade do trabalho é a responsável pela tragédia a que o homem nordestino está submetido. “No Semi-Árido se trabalha três meses e nos nove restantes o homem não tem o que fazer, não tem nenhuma ocupação. A nossa meta é fazer com que o homem tenha a ocupação no roçado durante o inverno e outra ocupação durante o período da estiagem”, lembra ele.

Segundo Balduíno, com base nessa lógica o homem vai reciclando a miséria, o que é muito grave. “Essa é uma situação terrível. Nós precisamos educar os jovens para viver nas cidades, nos ambientes, onde eles nasceram”, ensina.
A Universidade Leiga do Trabalho, inaugurou este mês o curso de Capacitação para Construção da Casa Própria, que ensinará os ofícios de pedreiro e marceneiro.O curso é o resultado da fusão de outros cursos oferecidos pela instituição e ensinará os ofícios de oleiro, pedreiro, marceneiro, eletricista e encanador a trabalhadores do Semi-Árido.

A história da ULT
A ULT foi fundada em 1987 como o resultado de um sonho do jornalista e historiador Balduíno Lélis e de seus companheiros da Associação Paraibana de Imprensa (API). A instituição não possui fins lucrativos e, durante os mais de vinte anos de atuação, não recebe recursos  públicos.

Mesmo assim, com a ajuda de professores voluntários e instituições correlatas, já formou 586 alunos que se tornaram aptos a exercer uma profissão nas próprias cidades onde residem.

Balduíno informa que três casas já foram construídas como resultado dos cursos oferecidos aos alunos. Eles não apenas fizeram os tijolos, telhas e esquadrias, como também ergueram as casas como parte de um projeto experimental realizado no Sítio Quixaba, em Taperoá.
“A experiência foi feita e o resultado alcançado. Mas do que nunca o trabalho deve continuar já que fixar o homem à terra é o maior objetivo”, diz. “É como dizem os matutos da minha terra: quem casa quer casa. E por que não ensinar a fazê-la?”, questiona Lélis.
Além do curso de Capacitação para Construção da Casa Própria, no dia 3 de setembro também foi inaugurado o Memorial das Riquezas da Paraíba, que trará os espaços da Sala da Imprensa Luiz Gonzaga Rodrigues e da Sala do Livro Escritor José Loureiro Lopez.

Haverá também a inauguração da Sala de Convenções Governador Juarez Farias; do Parque da Luz e da Força Governador João Agripino Filho; da Praça da Liberdade Governador Dorgival Terceiro Neto; do Teatro Escola Fernando Teixeira; e da Fonte da Vida Poeta Ronaldo Cunha Lima.

No início de setembro, pesquisadores da Paraíba se reuniram nas mesas de estudo da Pré-História e do clima na região. Foram inaugurados ainda o Gabinete de Estudos do Semi-Árido Professor José Augusto Trindade e o Auditório de Ciências do Homem Professor Ricardo Maia, “por quem eu tenho um carinho especial pelo feito da realização de um sonho que é a universidade”, afirma Balduíno.

Balduíno se orgulha de um feito: os cinco empresários mais ricos de Taperoá são jovens que passaram pelos ensinamentos da Universidade Leiga do Trabalho. “Isso me deixa muito orgulhoso, porque eu colaborei com a história dessas pessoas e eles sabem reconhecer o valor do aprendizado, tanto que investem para que outras pessoas possam aprender na ULT”, comenta.
Um criador de museus
Balduíno perdeu a conta de quantos museus já fundou ou ajudou a criar na Paraíba. Estudioso profundo da nossa história ele tem o maior acervo sobre a Paraíba que um historiador possa ter. Tem até a história de todas as famílias da Paraíba, desde os tempos das sesmarias.

“Um museu não é um ambiente com um monte de coisas velhas. Pelo contrário: o museu representa a história viva de um povo”, explica o historiador e professor Balduíno.
Entre os museus que ele fundou estão o Museu do Estado na Igreja de São Francisco, em João Pessoa; o Museu da Energia, no Espaço Cultural da Energisa; o Museu da Fafi; Museu Epitácio Pessoa, na sede do Tribunal de Justiça do Estado, em João Pessoa. O Parque Arruda Câmara foi Balduíno quem ajudou a montar.

Fonte: A União

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